Saudade, falta, ausência... Ausência, falta, saudade = Necessidade
Ontem fui ao pueblo, vi a gente bonita e colorida da cidade,
a gente bonita da cidade também notou minha presença... O diferente é mesmo
encantador!
Voltando para La Granja, ouvi uma música alegre ao longe com
caixa, bumbo e trompetes, fiquei curiosa e parei para olhar, logo vi um monte
de gente, algo como um cortejo com música, pensei que se tratava de algum
evento para santo, romaria, enfim, coisa do tipo... e então dois homens que
estavam de passagem olharam e disseram: “Olha, mais um defunto!”
Minha curiosidade aumentou, como uma música tão alegre podia
acompanhar um enterro? Fiquei com vontade de voltar de voltar para acompanhar o
enterro e ver como a gente daqui se relaciona com a morte... Mas resolvi não
ir, há que se respeitar a morte, e um enterro
não é um evento folclórico ou turístico... Impus limite a minha
curiosidade e voltei para La Granja.
À tarde terminei de ler um artigo de Marco Giannotti: Andy
Warhol ou a sombra da imagem. Embora eu não seja partidária da pop art, Warhol
tinha uma percepção do trabalho de sombras que ao meu ver é fantástica (para
quem ficou curioso ver Shadowns de Andy
Warhol, 1972). Para Warhol a sombra é ausência mas também é possibilidade, eu me identifico muito com essa noção: “Warhol faz da sombra não apenas um murmúrio
platônico, converte essa ausência numa alavanca para novas possibilidades que
se apresentam na repetição. Ao celebrar a ausência está celebrando novas
possibilidades para a pintura.” (Giannotti)
Em uma outra parte do artigo há um depoimento de Warhol: “...me dei conta de que tudo o que crio está
ligado à morte...” (Warhol, apud
Giannotti)Essa afirmação me fez estremecer, pensei sobre a minha relação com a morte, sobre a
curiosidade e interesse que tenho desde criança em relação a essa face da vida,
sobre o fato de sempre me dar conta da
proximidade da morte, tanto que um cortejo funerário me hipnotizara horas
antes... E então comecei a refletir sobre o meu trabalho, estou dançando a
necessidade, falta (Ananke) de Eros (amor), isso mais relacionado com
as pequenas mortes que vivemos diariamente...
Esse tema é algo muito presente na minha vida nesse momento,
e também muito presente no mundo, no qual as relações humanas são descartáveis
e no qual os vínculos afetivos somem sem deixar rastros, e tudo o que sobra é
uma imensa falta... E dessa sensação de falta se alimenta o mercado da felicidade,
o capitalismo pós-moderno mais que selvagem... Enfim, de volta a Bauman, de
volta ao Amor Líquido... Mas creio que de forma mais profunda... Retomarei essa
leitura...
E lá vou eu, transformar feridas em poesia...
REFERÊNCIAS:
GIANNOTTI, M. Andy Warhol ou a sombra da imagem. In Ars, dos
autores e do Departamento de Artes Plásticas. ECA/ USP, São Paulo, Brasil,
2004.
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