segunda-feira, 7 de maio de 2012


Saudade, falta, ausência... Ausência, falta, saudade = Necessidade

Ontem fui ao pueblo, vi a gente bonita e colorida da cidade, a gente bonita da cidade também notou minha presença... O diferente é mesmo encantador!
Voltando para La Granja, ouvi uma música alegre ao longe com caixa, bumbo e trompetes, fiquei curiosa e parei para olhar, logo vi um monte de gente, algo como um cortejo com música, pensei que se tratava de algum evento para santo, romaria, enfim, coisa do tipo... e então dois homens que estavam de passagem olharam e disseram: “Olha, mais um defunto!”
Minha curiosidade aumentou, como uma música tão alegre podia acompanhar um enterro? Fiquei com vontade de voltar de voltar para acompanhar o enterro e ver como a gente daqui se relaciona com a morte... Mas resolvi não ir, há que se respeitar a morte, e um enterro  não é um evento folclórico ou turístico... Impus limite a minha curiosidade e voltei para La Granja.
À tarde terminei de ler um artigo de Marco Giannotti: Andy Warhol ou a sombra da imagem. Embora eu não seja partidária da pop art, Warhol tinha uma percepção do trabalho de sombras que ao meu ver é fantástica (para quem ficou curioso ver Shadowns de Andy Warhol, 1972). Para Warhol a sombra é ausência mas também é possibilidade,  eu me identifico muito com essa noção: “Warhol faz da sombra não apenas um murmúrio platônico, converte essa ausência numa alavanca para novas possibilidades que se apresentam na repetição. Ao celebrar a ausência está celebrando novas possibilidades para a pintura.” (Giannotti)
Em uma outra parte do artigo há um depoimento de Warhol: “...me dei conta de que tudo o que crio está ligado à morte...” (Warhol, apud Giannotti)Essa afirmação me fez estremecer, pensei sobre  a minha relação com a morte, sobre a curiosidade e interesse que tenho desde criança em relação a essa face da vida, sobre o fato de sempre me dar conta  da proximidade da morte, tanto que um cortejo funerário me hipnotizara horas antes... E então comecei a refletir sobre o meu trabalho, estou dançando a necessidade, falta (Ananke) de Eros (amor), isso mais relacionado com as pequenas mortes que vivemos diariamente...
Esse tema é algo muito presente na minha vida nesse momento, e também muito presente no mundo, no qual as relações humanas são descartáveis e no qual os vínculos afetivos somem sem deixar rastros, e tudo o que sobra é uma imensa falta... E dessa sensação de falta se alimenta o mercado da felicidade, o capitalismo pós-moderno mais que selvagem... Enfim, de volta a Bauman, de volta ao Amor Líquido... Mas creio que de forma mais profunda... Retomarei essa leitura...
E lá vou eu, transformar feridas em poesia...


REFERÊNCIAS:
GIANNOTTI, M. Andy Warhol ou a sombra da imagem. In Ars, dos autores e do Departamento de Artes Plásticas. ECA/ USP, São Paulo, Brasil, 2004.

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