sexta-feira, 11 de maio de 2012


Mais refexões sobre a fronteira



Parece contraditório alguém que estudou sobre a identidade e todo esse engodo da noção de  pátria, evocar a idéia de fronteira relacionada a arte...

No entanto, a idéia que coloco aqui para compartilhar meu trabalho é a idéia de fronteira como limite entre eu e o outro.

Pensar a fronteira para mim é algo muito forte nesse momento, pois é na fronteira que você deixa de ser mais uma na multidão e passa a ser o diferente percebido a todos instantes. É na fronteira que você começa a ver os limites do seu entendimento, por mais que saibas a língua, você não é do lugar, e é impossível compreender os costumes, os códigos, os comportamentos... e então se chega a conclusão de que o estrangeiro será sempre estrangeiro, pode assimilar muito bem o que se passa, mas nunca vai fazer parte desse todo. A fronteira é o lugar onde algumas leis que você conhece são válidas e outras deixam de existir, onde você começa a lidar com novas leis, é também o principal lugar de infração das leis de ambos os lados...

Como disse um professor meu uma vez: a pele é a fronteira entre eu e o mundo, é o que determina o que não sou... onde termina eu e começa todo o resto do mundo...

É também na fronteira que acontece o encontro entre as curiosidades minha sobre o outro que é diferente para mim e vice-versa, e nesse momento nós dois temos que expandir “nossas fronteiras” para  nos fazermos entender um para o outro e tornar possível o compartilhamento de algo, logo é na fronteira que encontro o outro em mim e por um momento formamos uma unidade. Ou seja, na fronteira mora as contraditoriedades, as possibilidades de diversidade e unidade, e uma vez atravessada a fronteira não se pode voltar a ver as coisas como se via antes, atravessar a fronteira é mergulhar no desconhecido... é sair da suposição e entrar na experiência...

 Quando se fala de dança essa idéia se expande para o olhar, creio que estou buscando a dança da fronteira, que não é feita só do meu olhar, mas é feita também do olhar do outro.  Nesse entendimento criar torna-se um ato quase sagrado e a criação de fato só acontece no momento de encontro com o outro, antes disso tudo está no campo da possibilidade...

Assim, movida por essas reflexões é que tenho construído meu trabalho cênico, o trabalho com as crianças, este blog...

2 comentários:

  1. Muito legal isso Rosi. Talvez a Dança possa disolver essa diferença entre EU e OUTRO. Ou pelo menos criar uma interesecção ente esses todos diferentes, afinal como diz o sábio ditado: cada ser humano é um universo particular. O que é legal é que há fronteiras abertas e há fronteiras fechadas né. Como dizia O Galeano: a América Latina tem as veias abertas, e sangra, obviamente. Que seu trabalho seja lindo e que bom poder saber disso nesse blog.

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    1. Valeu Vivi, por acompanhar o caminho! Sim creio com certeza que a dança pode ser um meio de intersecção entre as fronteiras, uma pena que cada vez mais é usada no intuito inverso! Mas aqui estamos nós para fazer o caminho de outro jeito né?! um bjim e aquele abração super valeu!

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