Mais refexões sobre a fronteira
Parece contraditório alguém que estudou sobre a identidade e
todo esse engodo da noção de pátria,
evocar a idéia de fronteira relacionada a arte...
No entanto, a idéia que coloco aqui para compartilhar meu
trabalho é a idéia de fronteira como limite entre eu e o outro.
Pensar a fronteira para mim é algo muito forte nesse
momento, pois é na fronteira que você deixa de ser mais uma na multidão e passa
a ser o diferente percebido a todos instantes. É na fronteira que você começa a
ver os limites do seu entendimento, por mais que saibas a língua, você não é do
lugar, e é impossível compreender os costumes, os códigos, os comportamentos...
e então se chega a conclusão de que o estrangeiro será sempre estrangeiro, pode
assimilar muito bem o que se passa, mas nunca vai fazer parte desse todo. A
fronteira é o lugar onde algumas leis que você conhece são válidas e outras
deixam de existir, onde você começa a lidar com novas leis, é também o
principal lugar de infração das leis de ambos os lados...
Como disse um professor meu uma vez: a pele é a fronteira
entre eu e o mundo, é o que determina o que não sou... onde termina eu e começa
todo o resto do mundo...
É também na fronteira que acontece o encontro entre as
curiosidades minha sobre o outro que é diferente para mim e vice-versa, e nesse
momento nós dois temos que expandir “nossas fronteiras” para nos fazermos entender um para o outro e
tornar possível o compartilhamento de algo, logo é na fronteira que encontro o
outro em mim e por um momento formamos uma unidade. Ou seja, na fronteira mora as
contraditoriedades, as possibilidades de diversidade e unidade, e uma vez
atravessada a fronteira não se pode voltar a ver as coisas como se via antes,
atravessar a fronteira é mergulhar no desconhecido... é sair da suposição e
entrar na experiência...
Quando se fala de
dança essa idéia se expande para o olhar, creio que estou buscando a dança da
fronteira, que não é feita só do meu olhar, mas é feita também do olhar do
outro. Nesse entendimento criar torna-se
um ato quase sagrado e a criação de fato só acontece no momento de encontro com
o outro, antes disso tudo está no campo da possibilidade...
Assim, movida por essas reflexões é que tenho construído meu
trabalho cênico, o trabalho com as crianças, este blog...
Muito legal isso Rosi. Talvez a Dança possa disolver essa diferença entre EU e OUTRO. Ou pelo menos criar uma interesecção ente esses todos diferentes, afinal como diz o sábio ditado: cada ser humano é um universo particular. O que é legal é que há fronteiras abertas e há fronteiras fechadas né. Como dizia O Galeano: a América Latina tem as veias abertas, e sangra, obviamente. Que seu trabalho seja lindo e que bom poder saber disso nesse blog.
ResponderExcluirValeu Vivi, por acompanhar o caminho! Sim creio com certeza que a dança pode ser um meio de intersecção entre as fronteiras, uma pena que cada vez mais é usada no intuito inverso! Mas aqui estamos nós para fazer o caminho de outro jeito né?! um bjim e aquele abração super valeu!
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