terça-feira, 22 de maio de 2012


Fazer arte como forma de expansão do olhar


O Projeto Chamaco (este pelo qual vim a trabalhar com as crianças) é semelhante em muitos aspectos com alguns dos projetos onde já trabalhei, no entanto há a significativa diferença em relação ao público atendido. As crianças deste Pueblo de 1044 habitantes ainda têm características de curiosidade, encantamento e descoberta que em um grau mais elevado já foi perdida pelas crianças dos grandes centros urbanos.
No entanto, vivem em um universo muito pequeno e também em certa medida num círculo vicioso, e o projeto Chamaco segundo Mario Villa e Gabriella Medina está nessa comunidade como uma ferramenta de expansão do universo dessas crianças, que sim possuem um universo interior riquíssimo, mas que em certa medida não contam com muitas possibilidades de escolha para o seu futuro, assim a arte entra como meio de exercitar a imaginação para se encontrar novos meios de sobrevivência, novas formas de existir. Grande parte dessas crianças trabalha para ajudar suas famílias na dura tarefa de prover o pão de cada dia, todavia não deixaram de ser crianças, a arte é colocada aqui como um meio de expandir esse universo para que se consiga enxergar a possibilidade de uma existência mais suave.
Esse projeto acontece por meio de duas professoras da única escola primária do Pueblo que consideram importante as diversas experiências vividas pelas crianças, são gente realmente comprometida com o ato de educar. É muito interessante ver a maestra Guille (professora da turma com quem trabalhei) instigando seus pequenos a pensar, e pensar num sentido mais complexo como o que coloca Bondía: instigando-os a dar sentido ao que lhes acontecia, ao que estavam sendo no momento em que fazíamos as atividades.
Assim, penso que as atividades que realizamos foram muito importantes para a formação dessas crianças de 8 anos, que jamais teriam acesso a atividades complexas como as que fizemos.
E que apesar de haver muitos pontos positivos neste lugar, a população forma juntamente com uma série de “pueblos” espalhados pelo mundo à base dessa organização social nefasta na qual vivemos e que cedo ou tarde vai tirar a alma dessas crianças...
*Referências: Jorge Larrosa Bondía, artigo: Notas sobre a experiência e o saber da experiência, disponível em: http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE19/RBDE19_04_JORGE_LARROSA_BONDIA.pdf

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